Gritos parados no ar

Lenise Pinheiro

Arquivo documentos de teatro com fotografias catalogadas em ordem alfabética. Nichos específicos em pastas distintas, nomeadas por títulos sugestivos. Armazenadas em totens metálicos, reveladas pelas químicas, para valorizar o trabalho da classe teatral.

Dei início aos registros fotográficos, ainda no período militar. Desde o começo dos anos 80. Depois da repressão, o recrudescimento das plateias. O público, através dos encontros entre ficção e realidade, se mostra a favor da liberdade de expressão.

O Teatro Brasileiro assume protagonismo e passa a movimentar a economia e, de maneira expressiva, segue os passos de Cacilda Becker, que ao exigir as chancelas do profissionalismo, propôs regras ao jogo que move tabuleiros e inspiram até hoje. Apesar da crise no setor, paralisado pelo distanciamento social, imposto pela pandemia do novo corona vírus.

Desafios estabelecidos na vertigem  da internet, novos padrões para manifestações artísticas. Os operários da Cultura, aguardam representatividade no atual governo, e depois de sucessivas trocas de secretários, sem auxílio emergencial, lançam gritos parados no ar.

Cortinas se abrem para o drama causado nesse hiato de seis meses de paralização nas atividades do setor cultural. Ruy Castro, fala do sofrimento e das urgências impostas aos profissionais das artes.

Em seu recente texto na Folha, diz:

– “Que a Lei Aldir Blanc entre logo em vigência. Não é só o teatro – é a vida que já não pode esperar”.

Atravessa a quarta parede:

– “Para mim, poucas coisas engrandecem a experiência humana quanto o teatro”.

Concordo em número e grau.