10 Vezes Otavio

Lenise Pinheiro

Otavio Frias Filho tem feito muita falta. A data que marca os dois anos de sua morte, dia 21 de agosto, traz à tona as recorrências ligadas à sua ausência.

Apesar de inúmeras atribuições como jornalista, ensaísta e diretor de Redação da Folha —cargo que ocupou por 34 anos, até sua morte—, conciliava essas agendas com as do teatro. Entre suas principais peças: “Típico Romântico”, montada em 1991 com Maria Della Costa, estrela-guia da produção. Direção do parceiro de tantas montagens, Maurício Paroni de Castro.

Também dramaturgo, Otavio tinha a presença requisitada regularmente em ensaios, em suas participações nessas ocasiões, se dava ao máximo. Chamado ao palco, comparecia com fleuma e garra. Fazia exercícios de voz com os atores, dava aulas informais sobre qualquer tema e repetia, parafraseando Cacilda Becker: “Todos os teatros são meus teatros”.

Ensaio 2003

Sempre convicto do que dizia. Com verve profissional, arriscou-se como ator no Teatro Oficina, sob o julgo de Zé Celso, em temporadas distintas —a abertura desses trabalhos se deu no papel do repórter Caveirinha, de “Boca de Ouro”, em 1999.

Nessas ocasiões, apresentou-se “para a casa lotada”, como gostava de se exibir. Interpretot Miroel Silveira, um crítico de arte, no espetáculo “Cacilda!”, em 2001.

Otavio conquistava a todos. Com poções de lirismo, conhecimento e poder de síntese, descrevia fantasias com riqueza de detalhes. Travava diálogos insólitos e com curiosidade aguçada, provocava a imaginação de seus interlocutores. O gosto apurado pela literatura, pela música, pela política e pelas artes cênicas eram referências explícitas em sua narrativa

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Bete Coelho e Renato Borghi em Rancor 1993.

Espetáculo dirigido por Jayme Compri

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Otavio, que visitava periodicamente Curitiba por ocasião do Festival de Teatro, em 1995 fez essa foto ao lado de Barbara Heliodora (1923-2015), crítica “acima de qualquer suspeita”,  segundo ele

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Tutankáton, com direção de Mika Lins, a mais recente montagem de sua lavra, estreou com as cores do Egito e Samuel de Assis, em 2019

Hoje, nessa homenagem, pouco temos a comemorar. A lembrar, uma lista editada por ele próprio, batizada de “Peças que causaram impacto ao indivíduo”. São 10 sugestões do dramaturgo Otavio Frias Filho (1957-2018), aqui com imagens pinçadas cá e lá, em diferentes tempos e espaços, que agora também abrigam nossa saudade.

1º Trilogia Kafka

Texto e direção: Gerald Thomas

Atriz: Bete Coelho

Teatro Ruth Escobar, São Paulo, 1988

2º Ham-let

Texto: William Shakespeare

Direção: Zé Celso Martinez Corrêa

Ator: Marcelo Drummond

Teatro Oficina, São Paulo, 1993

 

3º Nelson Rodrigues 2

Direção: Antunes Filho

Sesc Anchieta, São Paulo, 1984

 

4º  A Hora e a Vez de Augusto Matraga

Ator: Raul Cortez

Sesc AnchietaSão Paulo, 1986

5º Romeu e Julieta

Texto: William Shakespeare

Direção: Gabriel Villela

Atores: Eduardo Moreira e Wanda Fernandes

1992

6º O Livro de Jó

Teatro da Vertigem

Direção: Antônio Araújo

Ator: Matheus Nachtergaele

1995

7º A Vida É Sonho

Texto: Calderón de la Barca

Direção: Gabriel Villela

Atrizes: Ileana Kwasinski (1941-1995) e Regina Duarte

Sesc Anchieta, São Paulo, 1992

8º Electra com Creta

Texto e direção: Gerald Thomas

Atriz: Vera Holtz

Sesc Anchieta, São Paulo, 1987

9º Sonho de uma Noite de Verão

Texto: William Shakespeare

Direção: Cacá Rosset

Ópera de Arame, Curitiba,1992

10º Melodrama

Direção: Enrique Diaz

Atores: Susana Ribeiro, Isabel Garcia, Drica Moraes e Marcelo Valle

Teatro da Universidade Católica – Tuca, São Paulo, 1996