Xiquexique

Lenise Pinheiro

“Eu vi o cego lendo a corda da viola

Cego com cego no duelo do sertão

Eu vi o cego dando nó cego na cobra

Vi cego preso na gaiola da visão

Pássaro preto voando pra muito longe

E a cabra cega enxergando a escuridão

Eu vi a lua na cacunda do cometa

Vi a zabumba e o fole a zabumbá

Eu vi o raio quando o céu todo corisca

E o triângulo engulindo faiscá

Vi a galáctea branca na galáctea preta

Eu vi o dia e a noite se encontrá

Eu vi o pai eu vi a mãe eu vi a filha

Vi a novilha que é filha da novilhá

Eu vi a réplica da réplica da bíblia

Na invenção dum cantador de ciençá

Vi o cordeiro de deus num ovo vazio

Fiquei com frio te pedi pra me esquentá

Eu vi a luz da luz do preto dos seus olhos

Quando o sertão num mar de flor esloreceu

Sol parabelo parabelo sobre a terra

Gente só morre para provar que viveu

Eu vi o não eu vi a bala matadeira

Eu vi o cão, fui nos óio e era eu”

Xiquexique

José Miguel Wisnik

Vimos o Lelé vendo a ema

Vimos a ladra o ladrão e o fujão

Vemos Parabelo

Vemos Tom

Vemos Zé

Vemos apropriação indébita

Pode não