Depois de tantos dias

Lenise Pinheiro

Nas artes, movimentos tomam corpo e dialogam com possibilidades ainda incertas. Em clima alto astral, muitas apresentações nas lives e nas postagens.

Cada qual na sua rotunda, jargão teatral, para simbolizar isolamento.

Distante das salas de teatro, me lembro dos colegas de trabalho. Edito imagens de detalhes em camarins, olhares e antídotos para esses tempos difíceis.

Onde, jornalistas apontam suas lentes para a cultura fora de foco. Números sugerem altos e baixos. Professores, artistas e técnicos, atravessam as sombras. Estamos na era dos protocolos, testagens e incertezas.

Isso para dizer o mínimo, já que o enfrentamento assume o protagonismo dos dias e das noites de todos. Em qualquer direção que os ventos soprem, alertas da pandemia. Denúncias e sirenes.

Cuidados com a saúde, medidas preventivas e distanciamento. Nem todos escapam dos gráficos e das quedas. Seus bolsos vazios gritam:

– “Socorro”.

Os sanitaristas, médicos, enfermeiros e profissionais da saúde trabalham em condições extremas, ajudam a recolher nossos cacos várias vezes, numa edição de telejornal. Os aventais, equipamentos de proteção e as luvas, em contraponto ao desamparo dos dedos da menina franzina, fazendo o “V” da vitória, ao sair do hospital. Vidas sendo salvas:

– “Venci a Covid”.

Sugere o cartaz que ela exibe como pode, sorri para a reportagem e fica lá… sem escola, sem água, sem nada. Com a sensação que alguém grita:
– “Acabou, porra”.