Veja texto e fotos de ‘Tempos de Teatro’

Lenise Pinheiro

“O tempo não para no porto, não apita na curva, não espera ninguém”.

Vivo cantarolando esses versos pelas ruas do centro da cidade e pelos teatros por onde passo. Sensação de dormir e acordar sob os acordes:

– “O tempo não é minha amiga, aquilo que você pensou”.

Assombros e areia nos olhos:

– “É o nada, que o tempo levou”.

Depois, um vazio. Os velhos cristais. Ponteiros que não se encontram mais.

Ampulhetas e mãos cheias de fotografia.

De palco em palco, observo mostradores. Relógios de diferentes formatos, cores e orientações.

Inquisidores:

– “Como você usa seu tempo?”.

Trepada no alto da cena. Parada e em ação.

Horários em fuso, detalhes de uma mesma encenação.

Atores, prestes a entrar em cena, se assemelham às engrenagens de um relógio.

Abstratos, alternativos, de época ou de ponto.

Pendurados nas cozinhas, nos camarins.

Como se de qualquer maneira dissessem:

– Tic, tac.

O tempo parece caber na palma da mão:

– “As doces canções de criança, lembranças demais”.