Veja texto e fotos de ‘Sombras pelos palcos’

Lenise Pinheiro

Nesses últimos tempos, convivemos com a parte menos iluminada ou mais escura, de pessoas com poder de decisão. Comentários, vetos e desmandos beiram a sandice e chegam aos nossos ouvidos atordoando os sentidos.

Estarrecida, encontro no teatro, abrigo e sustento. E dada a diversidade de montagens, estilos e técnicas; constato que podemos jogar luz nas sombras, pelos palcos. Com fôlego renovado pelo trabalho, registro atores se esparramando pelos cenários.

Malfadada pelos quatro cantos do mundo, a sombra aparece em meus registros entre rebocos e paisagens, revelam gestos impositivos ou boas maneiras. Sugerem olhares e dissipam medos. Crescem positivas e operantes.

Fulguram. Apontam para nós.

Evoluem quase nunca assombram, dispensam registros de voz para impressionar a audiência. Aguçam a imaginação.

Vejo emoldurada nas paredes da infância, um recorte com perfil de meu pai ainda moço, retratado por um artista anônimo, que no centro de São José do Rio Preto esculpia entre sombra e luz, traços fidedignos. Anos mais tarde, essa imagem, ganhou status de energia luminosa, assumindo contornos de um Yin Yang pessoal. O princípio da filosofia chinesa alinhado ao desenho dos meus dias.

Inspirada pelo meu ofício, vejo jogos de sombra e luz por onde passo. Ludicidade frente à movimentação dos contornos em superfícies insólitas, cortinas e praticáveis.

As sombras equidistam inquietudes e raças. Incutem visões carregadas de fé e esperança:

– ‘Dias melhores virão’.