Veja texto e fotos ‘Antunes Filho e seu estranho jardim’
Morre o homem de teatro.
Dele brotam plantas enraizadas pelos palcos. Desenvolvidas nos laboratórios de Antunes Filho. O célebre diretor do Centro de Pesquisa Teatral do Sesc, estabeleceu vínculos entre sabedoria e pertinácia. Deixando uma legião de seguidores. Criou o papo reto:
– “Vai, faz direito, está uma merda”.
Dizia baforando cachimbo, olhando fixamente para meus olhos. Como que antevisse meus contatos em preto e branco.
Posso afirmar que passei a pronunciar melhor as palavras, ao ouvi-lo. Seu trabalho despertou algo de solene em meu cotidiano. Passei obliterar detalhes, incluir guardas chuvas, laços e cadarços em meus registros. O ator assume protagonismo e responsabilidade com o método desenvolvido no teatro do Antunes. Aparecem nos gestos das fotografias.
Trabalho que fertiliza a imaginação do público e dos artistas, seu criador, agora habita dimensões estratosféricas.
Há sete dias ele se foi. Conta difícil de fazer. Dias iguais, todos sem ele.
Ficam vívidas as lembranças marcadas em meus registros. Dentre alguns episódios, relembro cliques e atores. No palco do Teatro Anchieta fui recebida para fotos com Kasuo Ohno. Aqui, Kasuo via Antunes e gostava do que via. Cumplicidade oriental. Antunes, o mais japonês de todos, dava toques para o iluminador Davi de Brito:
– “Vou falar em fonemol“.
Falou e disse.
Iluminou cenários e novidades.
– “Aconteceu. Virou manchete”.
Gostava de dirigir enquanto se deixava fotografar, estabelecia o ritmo, trazia urgência. Ria para mim.
Ao escolher as imagens, encontro diferentes montagens e temperamentos destroçados. Perfeitos para a ocasião. Divisórias entre o real e o imaginário. Tapumes e taperas. Taperás!