Veja texto e fotos de ‘Amordaçados e Vendados pelos palcos’
A imaginação corre à solta no teatro. 2019.
Tempo real. Acompanho ensaios, encontro artistas e ideais de um mundo melhor. Criadores que se perpetuam através de suas obras. Submergindo de tantas ameaças.
Por ora, amordaçados e silenciados. Aqui, se expressam por olhares. Olhos vendados, que não compartilham visões limítrofes.
No palco, tudo é permitido. Fazer graça com a plateia. Fazer cena para atenuar o dia a dia.
Temporada de Trair e Coçar é só começar, em 1992,
A atriz amarrada e com mordaça, se vale do olhar. Arranca gargalhadas. Solta murmúrios, sons codificáveis. Teatro popular.
Casa cheia. Na plateia, ouço de um médico anestesista, meu camarada:
– “Denise Fraga e o texto do Caruso”… divagou:
– “estou de cara com tanta humanidade” … divagou mais ainda:
– “deformação profissional”! Concordei.
Mas tem o franco atirador. Arma em riste. Cantando hino.
Pátio de escola, escola sem radar. Estrada sem partido. Bandeira ódio e retrocesso.
Entorpecido pelo poder? Visão parcial, fotografia e violência.
Agonias tensionadas pelos palcos. 451 graus Fahrenheit, para queimar amarras. Pleitear tempos melhores.
A classe teatral, vocacionada a resistir, segue nos trabalhos.
Somos muitos, adoradores, desse teatro plural. Pisando em folhas secas. Caídas de uma mangueira ou de um cenário, hoje sem Beth Carvalho.
Plínio Marcos, Banksy e Luíza Curvo, nesse cortejo de horrores. Aqui e agora.
A Jornada de um imbecil. Asfixiados pelo cotidiano. Pelo desmatamento, pela força bruta.
A Vida Dela em família com Ernani Sanchez, Gabriela Flores, Priscila Gontijo e Silvio Restiffe, e A voz que resta dos diálogos de Vadim Nikitin com Gustavo Machado, versos potentes de amores sem fim.
Narrativas através de imagens. Megafones para as mulheres de burca. Olhares, vendas e mordaças arrancadas por Fernanda Azevedo, Nora Prado e Maíra Dvorek. Muktaran, Material Bond e Unglauber, montagens polifônicas.
Viva o Teatro Oficina com a boca no Asdrúbal.
Sempre lindo. Bacante, musical.
Cárcere Privado, onde o fio de Ariadne escorre sangue pela boca do ator Fernando Bretas.
Libertas quae sera tamen
O poder da presença de Malú Bierrembach.
“Um povo ignorante é o instrumento cego da sua própria destruição”. Já dizia o poeta.
Parceria de Cassio Brasil e Eugênia Thereza de Andrade. Nervos de Deus, 2002.
Há 500 anos, Mona Lisa está com Leonardo da Vinci, mirando o horizonte.
Sem ver nem falar. Como a estátua da Justiça. Ou comercial de banco.
Me lembro do Xarope São João, anuncio em bondes e ônibus. Meu primeiro instagram.
Vou fugir para a frente das ribaltas, fotografar, quem mais chegar.
Documentação…sem os carimbos da Dona Solange.