Veja texto e fotos de ‘Marcas de Teatro’
À organização dos atores no palco, dá-se o nome de marcação. E talvez seja uma de minhas maiores obsessões. Como fotógrafa de teatro apreendo a movimentação dos retratados.
Tento ser fiel às características das montagens e quando questionada sobre a importância dos atores em meu trabalho, respondo sem titubear:
– Atores e atrizes, os magos da minha profissão.
É claro que todos os envolvidos, configuram o todo. Aos diretores confiro as orientações e escolhas. Os cenógrafos ambientam as narrativas, figurinistas costumam fazer a alvorada da estética, pois se Deus está nos detalhes, é na confecção das roupas de cena que observamos traços da personalidade dos personagens. Maquiadores e Sonoplastas aparecem no topo da lista que é imensa. Mas são os iluminadores que se valem da métrica das marcações pelo palco para conceber roteiros e mapas de luz. Elementos fundamentais para que tudo fique ao alcance dos olhos e que possíveis “defeitos” ou falhas indesejáveis desapareçam.
Metáforas à parte, venho colecionando marcas em meu trabalho. Na revisão de imagens ou mesmo editando material, uma sucessão de lembranças, tentam aplacar a fúria do meu olhar em torno dos palcos.
Muito se falou da apresentação de 4.48 Psicose onde Isabelle Huppert se apresentava praticamente imóvel por duas horas, compelindo a plateia a aderir ao seu não movimento. Ligia Cortez, dirigida por Bob Wilson em A Dama do Mar, surgia divinal em cena como uma esfinge, milimetricamente esculpida.
Lena Roque, em seu monólogo Louca de Amor – Quase Surtada, gestigulava sem parar. Marco Ricca, nas apresentações de Bakunin, abria o pano enterrado até o pescoço no cenário de areia, marca de tirar o fôlego, literalmente. Os atores que na cena final de Hamlet aparecem mortos, “imexiveis”. Quantas Ofélias tem a árdua incumbência de permanecer imóveis enquanto Laertes e o príncipe da Dinamarca disputam o abraço final na cena do enterro? Atores permanecem amarrados, por cenas inteiras. Outros andam sem parar enquanto esparramam falas pelo palco, como vimos recentemente Wagner Schwartz em A Boba. E o que dizer de Armando Babaioff que depois de levar muito sopapo aparece pendurado de cabeça para baixo em Tom na Fazenda. Exemplos para ilustrar essa prosa.
“A marcação de uma peça é importantíssima no resultado final e, paradoxalmente, não tem nenhuma importância. Teoricamente, ela se propõe a tornar o espetáculo pictoricamente equilibrado, visualmente harmônico”. Trecho extraído do livro Do Tamanho da Vida: Reflexões Sobre o Teatro de Domingos Oliveira. (Coleção Documentos, Rio de Janeiro, INACEN, 1987).
Em meus estudos, artistas com olhares fixos ou mesmo com vendas nos olhos, molhados, abraçados, agachados, empoeirados e em decúbito dorsal,seguindo a máxima de Shakespeare onde estar pronto é tudo.