Novo ‘Fantasma’ tenta levar o pop de Andrew Lloyd Webber à ópera
O Fantasma da Ópera
★★★
Teatro Renault. Av. Brig. Luís Antônio, 411, tel (11) 4003-5588. Qua., qui. e sex., às 21h; sáb., às 16h e 21h; dom., às 15h e 20h. Até 23/12. Ing.: R$ 75 a R$ 300
Como sempre nas versões de “O Fantasma da Ópera” derivadas da direção original de Harold Prince, esta mais recente é suntuosa, das cortinas ao elefante. Retrata em cores exageradas os bastidores de um teatro romântico.
Mas ao mesmo tempo é um pouco diversa, mais contemporânea. Aparenta uma inspiração mais livre do que de costume, em se tratando do tão repisado musical do hoje barão Andrew Lloyd Webber.
Do célebre golpe do lustre ao rio de gelo seco —aquele que o crítico Frank Rich chamou de “a visão do inferno por Liberace”— está tudo lá, bem realizado e um bocado “kitsch”, mas não é mais o centro da apresentação.
“Fantasma” se volta para as vozes, sobretudo do triângulo central de Thiago Arancam (Fantasma), Lina Mendes (Christine) e Fred Silveira (Raoul). Explora mais as pontes lançadas pelo compositor na direção das óperas populares do que a interpretação teatral.
O protagonista é a indicação mais evidente disso. Arancam, tenor que a produtora foi buscar na cena operística, quando canta não se consegue concentrar em mais nada. Ele preenche a atenção do público.
Mas quando cai nos diálogos sérios, “straight”, ele não sabe o que faz. Agita as mãos, distribuindo gestos espalhafatosos, obviamente tomando por referência a atuação de Michael Crawford, que criou o papel com mãos para todo lado —como visto no fim dos anos 1980, na Broadway.
O lendário Crawford, dirigido por Prince, incorporou o teatro romântico ao próprio papel. Arancam, que não pode ainda ser descrito como um ator pleno, incorpora antes a ópera, procurando elevar as canções pop de Webber.
Já Silveira é ator bem mais experiente em teatro musical, mas seu Raoul é um papel menos desenvolvido na trama. O resultado é que as cenas de romance, tão necessárias para a peça, têm efeito restrito.
“Fantasma” só não é mais frustrante porque a soprano Lina Mendes, também tirada na ópera, é atriz natural, concentrada nas interações e com amplitude dramática —até dançar ela consegue e bem. Segura as pontas, com amantes tão distantes.
Sua Christine os acompanha e sustenta nos duetos de forma envolvente, como a jovem vulnerável, a heroína romântica, um joguete nas mãos dos dois homens —desta vez, especialmente cruéis. A fragilidade está expressa no seu próprio corpo delicado, indefeso, esteja ela cantando ou não.
Também cantores originalmente de ópera, Bete Diva, como a soprano Carlotta, e Cleyton Pulzi, como o tenor Piangi, se saem igualmente bem tanto na interpretação vocal como nas diversas passagens de alívio cômico do musical.