Otavio Frias Filho (1957 – 2018)

Lenise Pinheiro

“Tudo que eu tinha a fazer ao pisar em cena era despejar um bife enquanto caminhava depressa até Cacilda, convidar as moças a uma recepção onde as apresentava à imprensa, advertir um repórter impertinente e permanecer em cena, solene e principalmente mudo, pelos vinte minutos seguintes”. Otavio Frias Filho

Conviví com o lado artístico desse que hoje se despede. Minhas ribaltas estão a meio pau.

Deixei de ouvir o:

– “Boa, Lê”.

Estímulos vinham dele, até em forma de silêncio.

A mudez na cena por ele descrita no livro Queda Livre, aqui citada, ganhou voz em sua vida. Modernizou a imprensa.

Muito trabalho, rotativas e teatro.

Com suas canetas esferográficas apontando como mísseis…palavra que ele e eu usamos muitas vezes, em código que não ouso decifrar aqui.

Ainda menino, retratado em quadro e aos treze anos no palco do Teatro Gazeta, interpretando o Pirata em “Pluft”, ao lado das irmãs. Ele dizia:

– “Perna de Pau é um personagem que oferece possibilidades ao ator ambicioso”. E ria. Que graça.

Desde ontem procuro fotos do Otavio e encontro saudades. Olhares profundos. Em diferentes armações, tinha óculos o meu amigo. Das imagens, muitas lembranças carregadas de inspiração.

Ele, da soleira da porta, imitava o Caveirinha (personagem que interpretou no Teatro Oficina) com a voz impostada:

– “Pelas crianças Dona Gui Gui”. Ria da cena e só depois falava boa noite.

Fui apresentada a ele no Aeroanta em 1991. Numa fila de jantar com pratos e talheres nas mãos. Agradecidos por sermos amigos:

– “Unidos pelo teatro”.

Onde entrávamos sempre andando devagar, falando baixinho. Se fosse ensaio então, cuidados redobrados. Obrigada, meu querido.

Nos despedimos com um assovio da Iris, muitos aplausos e gritos:

– MERDA!