Agora protagonista, Malu Rodrigues dá o tom e sustenta ‘A Noviça Rebelde’
CRÍTICA
“A Noviça Rebelde” se sustenta em grande parte na protagonista, na voz de Malu Rodrigues.
É uma encenação acentuadamente religiosa e tradicionalista, que consegue ser mais antiquada que o filme de 1965. A leveza que se permite está na Maria de Malu, agora —e cada vez mais— com amplitude de atriz, não só cantora, e em sua relação com as crianças menores.
De resto, o humor desta nova produção embarca até em vulgarização preconceituosa da homossexualidade. E a encenação mergulha numa suntuosidade que não condiz com a música original, de 1959, de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II.
O kitsch pomposo, de uma Broadway de caricatura, parece marcar uma nova fase do diretor Charles Möeller e do versionista Cláudio Botelho. O que havia de alegre e efusivo na dupla brasileira ficou pelo caminho, trocado por um conservadorismo amargo.
Mas se trata de uma das cinco grandes criações de Rodgers e Hammerstein, a dupla de compositor e letrista que mudou o musical americano, tornando-o mais complexo. E é aquele com mais “standards”, canções que marcam até hoje, entre elas “The Sound of Music”, “Do-Re-Mi”, “My Favorite Things” e “Edelweiss”.
A produção, aliás, perdeu a chance de recuperar o título “O Som de Música”, mantendo o que foi usado para o filme, “A Noviça Rebelde”. A opção sublinha a história, o libreto de Howard Lindsay e Russel Crouse, de longe sua faceta menos qualificada.
O roteiro é não só melodramático na forma, indo contra as mudanças de Rodgers e Hammerstein no gênero, mas reacionário no conteúdo. A crítica que faz ao nazismo se apoia no nacionalismo e no militarismo austríacos —sem questionar autoritarismo ou racismo.
A produção carrega ainda mais nas tintas sombrias, católicas, com os cenários de David Harris, os figurinos de Simon Wells e o coro de freiras.
Outro problema está no elenco principal. O teatro Renault foi o palco da retomada dos musicais no Brasil, com produções que formaram público e uma geração de estrelas do gênero, não celebridades emprestadas.
“A Noviça Rebelde”, agora, retrocede ao que o teatro comercial tem de pior no país, o apelo a atores de telenovela. É como se os musicais, até no palco que provou a sua viabilidade, não conseguisse mais andar com as próprias pernas.
O protagonismo de Gabriel Braga Nunes e Larissa Manoela no musical ecoa a projeção em folhetins de TV. Ambos têm qualidades já provadas no teatro, mas até Nunes deixa a insegurança à vista quando precisa soltar a voz.
Resta Malu Rodrigues, 24. Com uma década de trabalho em musical, iniciada como Louisa numa produção anterior de “A Noviça Rebelde” pelos mesmos Möeller e Botelho, ela segura o espetáculo. É quem dá o tom para os outros protagonistas. Bela, sensual, confiante e com aquelas notas altas, faz esquecer os deslizes.
A NOVIÇA REBELDE
★★★
Qua. a sex., às 21h; sáb., às 16h e 21h; dom., às 15h e 20h. Teatro Renault, av. Brig. Luís Antônio, 411, tel. (11) 4003-5588. R$ 75 a R$ 310. Livre