“O Desmonte” abre temporada no Sesc Consolação SP
Peça de Amarildo Felix.
Interpretação de Vitor Placca.
Parceiros da 60a Turma da Escola de Arte Dramática.
EAD. Agora na Sala Beta.
Onde Coisas absurdas acontecem:
– “eu vi
eu vi aviões eclodindo nas torres mais altas do mundo
eu vi uma ilha ser construída no meio do mar
eu vi invenções de doença
eu vi invenções de guerra
eu vi rios inteiros secarem
eu vi
eu vi coisas absurdas acontecerem
eu vi homens e mulheres disputando sabonetes com roupas intimas em uma banheira
eu vi apresentadoras infantis – todas loiras – ditando belezas
eu vi uma mulher fingir uma gravidez com uma bola de plástico gigante na barriga
eu vi um desfile de moda com colete a provas de balas
eu vi apresentadores de fim de tarde inventando o medo
eu vi a indústria do medo ser inventada
eu vi cidades inteiras serem construídas dentro de condomínios de luxo
eu vi o pão se transformar em brioche
eu vi meus heróis morrerem de overdose
eu vi meus inimigos no poder
eu vi coisas absurdas acontecerem
eu vi conceitos mais amorosos de família desmoronarem
eu vi praças públicas inteiras se privatizarem
eu vi pessoas acreditarem na meritocracia
eu vi pessoas surtarem caçando monstros digitais em seus celulares
eu vi coisas absurdas acontecerem
eu vi pessoas – mesmo com medo – andando pela cidade
eu vi cães praticando stand up paddle
eu vi cães passeando tranquilamente em shopping centers
eu vi crianças negras sendo expulsas de shopping centers
eu vi para – raios falharem
eu vi um raio caindo duas vezes nos mesmos lugares
eu vi um político declarando que ganhou na loteria sete vezes
eu vi uma menina morrer engasgada com um chiclete bubbaloo
eu vi um homem morrer ao tentar tirar um selfie
eu vi uma mulher morrer enquanto ouvia a música Happy
eu vi um homem morrer afogado em uma pool party de salva vidas
eu vi um homem morrer depois que passou desodorante
eu vi uma mulher morrer asfixiada por que não conseguiu tirar o sutiã
eu vi uma mulher morrer depois de saltar da letra H do letreiro de Hollyhood
eu vi a ficção do encontro morrer
eu vi coisas absurdas acontecerem
eu vi um homem morrer depois de sair voando em balões
eu vi uma mulher morrer depois de ser atacada com um rebanho de ovelhas
eu vi um homem morrer depois de segurar o xixi
eu vi uma criança morrer depois que quebrou o pescoço pulando pongobol
eu vi um homem sobreviver depois de uma viga de ferro atravessar a sua cabeça
eu me vi acreditando que há a hora marcada para tudo
eu me vi acreditando – para aliviar dores – em mentiras
eu vi o rosto de um menino atravessando no meio de uma lâmpada fluorescente
eu vi empresários justificando o trabalho escravo
eu vi fascistas chegando ao poder
eu vi falsos humoristas – em nome do humor – falando atrocidades
eu vi coisas absurdas acontecerem
eu vi freiras franciscanas declarem vicio em sexo
eu vi velhas senhoras traficando lambretas
eu vi cidades inteiras serem varridas do mapa
eu vi pessoas com fome
eu vi pessoas com medo
eu vi pessoas acreditando na meritocracia
eu vi o desmonte acontecer
eu vi a luz de Saturno das janelas abertas de meu apartamento
eu vi coisas absurdas acontecerem
eu vi por fim
você ir embora
e eu nada pude fazer.
Silêncio: o corte necessário depois de verbalizar a dor.
A luz de um planeta distante banha o corpo de um homem triste.
Saturno paira sobre nós.
Seus anéis e toda a sua dimensão são símbolos da tristeza
De tudo aquilo que não deu certo
Saturno paira sobre nós”.
Projeções:
– “Abro as janelas: sou banhado por essa luz.
Amplidão e vazio nas mesmas proporções.
Eu vi o desmonte acontecer
Eu vi você indo embora
E nada pude fazer”
Sesc Consolação – Sala Beta – SP
Segundas e Terças 20h
(Não haverá apresentações durante o Carnaval)
Dramaturgia e Direção: Amarildo Felix
Ator: Vitor Placca
Voz off: Bruna Miglioranza
Iluminação: Thiago Capella
Cenografia e Figurino: Antônio Vanfill
Sonoplastia: Diego Mazutti
Produção: Gabrielle Araujo – Caboclas Produções