“Negrinha”, Sara Antunes encerra temporada na Casa Rio

Lenise Pinheiro

Resultado das pesquisas da atriz que, desde 2007, apresenta esse rito abolicionista.

Jogo estabelecido ao primeiro movimento, Sara Antunes nos coloca no bolso do figurino e arrasta nossos olhares entre casa grande e senzala.

Cheiro de vela derretendo entre as frestas de luz na parede da sala.

Sabedoria popular, matizes e outros assombros.

Verde, amarelo, vermelho:

– “Você gosta de vermelho, hein”?

Casas construídas sobre corpos negros.

Gemidos dos enterrados vivos.

– “Preto por baixo, branco por cima”.

Milho amarelo para as galinhas.

Brincadeiras, ladainhas e castigos.

– “Meu pai senhor, leva para bem longe esse bicho preto, de cor”.

Festa da liberdade:

– ” Cabeça virou batuque, algema virou pulseira, colete virou chocalho. E tudo virou”.

Abraços celebrados, pretos subindo os morros, canções e gritos.

Negrinha e todas as suas cores:

-“Branco não carrega preto nas costas, nem se for santo”.

Mãos negras, cesto de alho e mais valia.

-“Horror e covardia.

Saudade do colo da mãe África.

Dramaturgia escrita com leite e açúcar.

Gente sem cor e colorida.

Lua cheia.

Casa Rio – Botafogo – Rio de Janeiro

Hoje 05 de outubro 20h (Última apresentação da temporada)

2017

Atriz Sara Antunes

Direção Luiz Fernando Marques

Direção de Arte Renato Rebouças

Realização Sara Antunes