Crítica: Com Latorraca, ‘Vamp’ é melhor quanto mais se livra da telenovela e se aproxima da revista

Nelson de Sá

Gênero em crise não só no Brasil, a telenovela é um folhetim, de escrita ligeira. As adaptações para o teatro, ainda tentativas, exigiriam tratamento menos superficial do que se vê em “Vamp”.

O texto de Antonio Calmon, baseado em sua novela de 1991, mantém a estrutura de tramas paralelas, “núcleos”, no jargão. E não permite que os personagens, até alguns dos principais, se sustentem minimamente.

Mais importante, os diálogos ecoam aqueles da televisão, palavras jogadas fora, sem interferência no andamento, como que para preencher o tempo. E o resultado não é pouco tempo, pelo menos 2h20min, crescendo com os improvisos da apresentação.

O realismo banal transposto da TV conflita com a comédia popular que a direção geral e os protagonistas buscam para a cena. Com emergência de saúde, o diretor geral Jorge Fernando concebeu, mas se afastou da encenação, substituído por assistente, e talvez venha daí a frustração na busca por uma comédia musical próxima do teatro de revista.

Fernando, mais lembrado pelo trabalho em TV, caso de “Vamp”, tem longa trajetória na direção de comédia, inclusive musical, desde o besteirol com “As Mil e Uma Encarnações de Pompeu Loredo” até versões abrasileiradas e populares de “Gaiola das Loucas”, com Jorge Dória e Carvalhinho, e “Hair”.

Sua mão é percebida nas interpretações “camp” de Claudia Ohana e principalmente Ney Latorraca, secundados por Osvaldo Mil, Claudia Netto e alguns outros. Mas o elenco passa dos 30 atores, com papéis e falas injustificáveis que o personagem de Latorraca, Vlad, dirigindo-se para o público, questiona seguidamente.

Em que pesem as interpretações de Ohana e as coreografias de Alonso Barros, em quadros musicais bem realizados como “Noite Preta” e “Thriller”, canções usadas na novela original, o melhor está nos números “de cortina” de Latorraca.

Ele desce à plateia, distribui dentes de plástico, fala qualquer coisa e o teatro lotado vem abaixo. Lembra o histórico “O Mistério de Irma Vap”, em que já era, da dupla com Marco Nanini, aquele que menos respeitava o texto e as regras.

Uma versão desta crítica circula na edição de 28 de setembro de 2017 com o título “‘Vamp’ é melhor quanto mais se distancia das telenovelas”