“O Auto da Compadecida”, Cia Limite celebra aniversário de Ariano Suassuna (1927-2014), no Rio de Janeiro

Lenise Pinheiro

Ariano Suassuna faria 90 anos. A data comemorativa, 16 de julho, serviu de mote para a reestreia de O Auto da Compadecida, em cartaz no Teatro Eva Herz, na região central da cidade do Rio de Janeiro. Na plateia, sorrisos estampados nos rostos daqueles que já conheciam a história amplamente difundida pelo cinema.

A precisão e o aparvalhamento técnico do elenco, envolvem a audiência logo no começo da primeira cena. Diversos matizes iluminam figurinos e adereços. A graça dos atores tonifica o desenrolar da trama.

Os protagonistas João Grilo e Chicó, em perfeito entrosamento aos demais personagens, arrematam com linhas coloridas, essa farsa irresponsável escrita em 1955. A métrica do texto transforma desfaçatez, vigarice e deslizes morais em contundente narrativa. Brasileiro de língua afinada, o autor coloca todos os pingos nos iss, no roteiro dos mistérios divinos e em grande medida, vaticina poderes celestes, prestando talvez uma homenagem às crenças da religião católica, ao mesmo tempo que tece críticas mordazes, às práticas de alguns de seus oficiantes.

Testamentos, fábulas, arranjos e gato que “descome” dinheiro:

-“Gente não, gente é povo que não tolero, mas bicho dá gosto”.

Falsas promessas, opiniões antagônicas e injurias.

Defesas, queixas ao bispo e contos de réis.

Agonias, cangaceiros e superstições.

Safadezas entre abestados, pernas tremendo e braços frouxos.

Gatilhos e “desgracências”. Julgamentos. Nem Padre Cícero escapa.

Trunfos e chamados em verso:

– “Valha-me Nossa Senhora, mãe de Deus de Nazaré, a vaca mansa dá leite, a brava dá quando quer. Já fui casco, fui navio. Já fui menino, fui homem, só me falta ser mulher”.

O fato de João Grilo ser interpretado por uma mulher inspira mais “Chauvidade” e menos Chauvinismo.

A presença de Nossa Senhora, põe fim às trapalhadas, estabelecendo justiça e salvação. Acordos entre purgatório, inferno e céu.

Medrosos e valentes marcados pela simplicidade, nesse bailado da carpintaria teatral. O público se esbalda nessa montagem.

Teatro Eva Hertz – Livraria Cultura – Rio de Janeiro

Terças, Quartas, Quintas, Sextas e Sábados 19h

Texto: Ariano Suassuna

Direção: Sidnei Cruz

Atores / Personagem:

Gláucia Rodrigues / João Grilo

Rafael Canedo /Chicó

Edmundo Lippi / Padre João

Andressa Lameu / A Mulher do Padeiro

Jacqueline Brandão / A Compadecida

Robson Santos / Manuel

Leo Thurler ou Bruno Ganem / O Padeiro

André Frazzi / O Sacristão

Arnaldo Marquês / Bispo

Luiz Machado / Antonio Moraes

Kakau Berredo / O Encourado

Marcio Ricciardi / Severino De Aracajú

Música Original e Direção Musical: Wagner Campos

Cenário: José Dias

Figurinos: Samuel Abrantes

Iluminação: Aurélio de Simoni

Produção Executiva: Valéria Meirelles

Direção de Produção: Edmundo Lippi

Assessoria de Imprensa: Jspontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany