“Lili Marlene” é primeiro musical da dupla Haten & Cortada

Lenise Pinheiro

Fragmentos da vida real, da história da moda, da música e do teatro, se entrelaçam em Fause Haten, no palco do Eva Herz.

Relatos colhidos em mais de dois anos de trabalho. Espetáculo onde a coragem e o medo se revezam. Escritas em cena e tatuagens involuntárias da alma, no dizer do autor e performer. Personagens em diferentes fases e tormentas.

A sofisticação está no ar, seja nos arranjos musicais, nos detalhes e no poder de presença do ator. Voz rascante, grave e sedutora.

Narrativa truncada. Alternando vidas, tempos e afinações.

La vie en rose, só que não. Roupas brilhantes e cenográficas.

Fause tem muita habilidade ao trocar diferentes figurinos, em cena. Caimentos perfeitos. Corpo torneado, a serviço da trama. Métodos invasivos, incontroláveis abalos sísmicos e ácidos láticos:

– “Criança arrancada da panela da infância. Abusos se estabelecem em relações de confiança, que se transformam em relação de poder”.

Tombamentos na cidade cinza, desgovernada, como nosso país.

Alforria das personagens ao longo da apresentação. Cadências, costumes e beleza. Vícios, carreiras e analgésicos. Mergulhos cênicos bem realizados.

Números musicais, fingimentos e fantasias escorrendo pelo palco.

Desafios vencidos, tempos e sonhos. Marlene Drietrich, como inspiração.

Muito preparado, o artista transborda felicidade ao descrever a evolução dos personagens, parece brincar. Gritar, jamais? Ele grita sim.

Sem constrangimentos, provoca:

– “Não esqueça o que eu disse. Vai ouvir sempre a minha voz. Esse é o tom.”

Enquadramentos insólitos, nas projeções que compõem o cenário. A saia plissada, vira capa, vira luz.

Fácil falar depois de pronto. Talvez alguns minutos finais pudessem ser editados para que vídeos, timbres e cadeiras se encaixem.

Ao término da apresentação, de volta à noite, na Avenida Paulista, onde muitos voltam para suas casas, alguns pedem esmolas, reviram o lixo e chutam o ar. Indiferentes aos apelos da arte de Fause Haten.

Do alto dos saltos altos da imaginação. Cortina.

Teatro Eva Herz

Terças e Quartas 21h

Texto, Direção, Cenário, Figurinos e Atuação Fause Haten

Músicos Gabriel Conti, Marcos Magaldi e Raphael Coelho

Iluminação Caetano Vilela

Direção Musical e Arranjos André Cortada

Direção de Movimento Luis Ferron

Ass de Direção Richard Luiz

Op de Luz Luiz Fernando Vaz Jr

Op de Som Henrique Luís Bastos

Op de Vídeo Clara Caramez

Edição de Vídeos Carlos Amorim

Direção de Palco Alexandre Torres

Produção Executiva Anna Abe

Direção de Produção Henrique Mariano