Crítica: Com Marília Gabriela, ‘Constelações’ tropeça na física ao contar uma história de amor
Bastante festejada em Londres há cinco anos pela costura que faz entre uma relação amorosa e a física quântica, “Constelações” está mais para a primeira do que para a segunda.
É uma comédia romântica que pende para o drama —como tantas que Hollywood produz— com algumas pitadas menos tradicionais.
Por exemplo, não se passa numa sala de estar ou cozinha, como é padrão em peças assim, mas num cenário abstrato, que remete ao universo e, para confundir mais as coisas, à teoria das cordas. Já os diálogos repetitivos de Nick Payne remetem ao multiverso e por aí vai.
Ele não é o primeiro nem o mais bem-sucedido dramaturgo a recorrer à ciência para abordar temas mais mundanos. Um exemplo recente por aqui é Oswaldo Mendes, com “Insubmissas”. E o mais celebrado é o também inglês Tom Stoppard, com peças como “The Hard Problem”.
Stoppard ajudou a expor os limites de peças assim ao reclamar, publicamente, que os espectadores não entendem as citações que faz. O problema, é claro, não está nos espectadores.
Em “Constelações”, a questão é mais constrangedora porque, sem a névoa das metáforas científicas, resta muito pouco. As conversas do casal se repetem não como reflexo de universos paralelos, mas como eco de improvisações em alguma sala de ensaio.
Apesar das rubricas algo pretensiosas do original, que comandam cada troca de posição dos atores como “uma mudança no universo”, elas lembram uma retomada de cena ordenada por um diretor obsessivo.
Mas “Constelações” é engraçada, muitas vezes, e seus personagens e trocas de caminho durante os diálogos fazem a festa dos atores.
Marília Gabriela, que vive Marianne, causa fascínio em cena —o que parece resultar menos da trajetória de televisão e mais de sua exuberância física e evidente empatia. Cada vez mais voltada e experiente no teatro, consegue acrescentar, a cada variação nos diálogos, novas intenções, gestos, entonações.
Ainda assim, sua insegurança contrasta com a facilidade que Caco Ciocler, tão mais experiente como ator, demonstra no papel de Roland. (O espectador, por sinal, deve checar se Ciocler está realmente escalado para a apresentação que pretende assistir, porque ele é muitas vezes substituído.)
A encenação de Ulysses Cruz, tão voltada ao detalhe de cada novo “universo”, não parece atentar para o dinamismo que a trama como um todo requer —afinal, é uma história de amor, com começo, meio e fim, de estrutura bastante tradicional.
É como se a peça se erguesse e caísse, seguidamente, ao longo de mais de uma hora. Não tem uma condução firme, um norte claro, resultando por vezes tediosa.
Uma versão desta crítica foi publicada na edição de 24 de fevereiro de 2017 com o título “‘Constelações’, aos trancos, conta uma história de amor”