Crítica: O Impecável
Dá uma certa tristeza ver Luiz Fernando Guimarães em “O Impecável”. É um veículo de produção mínima, que desde o ano passado percorre o país —Rio, Belo Horizonte, o Nordeste, o ABC paulista— atrás de bilheterias fixadas em celebridades de televisão.
Até mesmo o título é derivado de um programa, a malfadada sitcom “Acredita na Peruca”, também escrita por Claudio Botelho e Charles Möeller e cancelada pela Globosat depois da primeira temporada, no último ano.
Como no monólogo, a série se passava no salão de beleza Impecável, com personagens como sua dona espalhafatosa, Maria Eleonora, interpretada por Guimarães e que está de volta no palco, sem grande mudança.
Os maiores pavores “politicamente incorretos” parecem ter ficado pelo caminho, como um mordomo com trejeitos homossexuais ou um travesti cabeleireiro, mas o humor pouco mudou, no fundo, com personagens como um cabeleireiro homofóbico ou uma manicure que é também prostituta.
É uma sequência de piadas ao léu, caracterizações superficiais e preconceituosas e cenas mal costuradas, agora feitas todas por um só comediante. Anedotas óbvias sobre cirurgia plástica, por exemplo.
Algumas delas funcionam, o público ri como se estivesse diante do televisor. Mas mesmo elas parecem sobras de algum quadro humorístico, que Guimarães já não representa com convicção.
É um veículo frágil, vazio. Nada de “castigat ridendo mores”, de corrigir os costumes pelo ridículo. Nada de afrontar o poder, como nos textos de Hamilton Vaz Pereira ou Gógol, que guiaram os primeiros e históricos passos do ator alto e desengonçado no palco.
Aos 40 anos de carreira, a empatia e a comicidade marcadamente física se mantêm, latentes ao menos, no ator cujo talento nada deve a nomes como John Cleese ou Will Ferrell, de tipo e humor semelhantes. Mas não existe comediante que sobreviva sem texto.
Uma versão desta crítica foi publicada na edição de 20 de agosto de 2016 com o título “Texto frágil desperdiça talento de Luiz Fernando Guimarães”