Lançamento Fotografia de Palco 2
Flexaret e Cia
É amanhã.
Poderia não ser tão novidade assim. Mas é.
Dia 19 de julho de 2016. A data que parecia distante, vai chegar. Uma grande lua separa o hoje de amanhã.
Vai raiar no meu horizonte o Fotografia de Palco 2. O livro conta velhas histórias e novos desejos.
Registros de teatro. Num álbum de retratos em branco e preto, cores e projeções desfeitas, que eu teimo em colecionar. Há sempre uma fotografia, um palco e um olhar para me encantar.
Respondo animada perguntas que acompanham o cair da tarde,
perpasso a narrativa do tempo, lembrando das primeiras câmeras fotográficas, perfilando histórias para contar.
No desafio de compôr a letra da música da minha história.
Tento lembrar da minha primeira fotografia, o primeiro retrato que tiraram de mim. Ainda um bebê serví de inspiração para os únicos prováveis fotógrafos na minha família. Meu pai e minha avó paterna.
Essa foto foi realizada em novembro de 1960, com uma Kodak Brownie nº 2. Câmera com poucos recursos e resultados fantásticos, made USA. Dela só me recordo das histórias e de uma viagem familiar a Mar del Prata.
Depois a Flexaret , médio formato, com duas lentes Meopta 80mm, fez a alvorada da minha iniciação à fotografia. Me punha a apreciar a vida através de seu visor. Ví, que pelas lentes, o tamanho da sala, do parque defronte a casa onde morava ou mesmo a natureza morta pendurada na parede, tomava outra dimensão. O que estava na direita ia para a esquerda.
Talvez eu já buscasse alguma coisa que confortasse minha solidão de filha única ou que redefinisse minhas fantasias sexuais às avessas. Tudo muito inspirador.
Volto os olhos para dentro de mim, só vejo fotos. Aprendi a me comunicar por imagens. Nas comemorações, muito tímida, fotografava os presentes de aniversário, que recebia. Os papéis de bombons que me davam ou mesmo peças de roupas que gostava. Já na escola fazia com a minha Kodak Xereta (sim havia ganho uma), logo substituída por uma Olympus Trip 35mm, coberturas das festas, passeios e trabalhos escolares.
Ainda tratada como mania, minha verve fotográfica foi contemplada com uma câmera mais robusta. Meus padrinhos de batismo e meus pais cederam aos meus incessantes pedidos e me deram uma Nikkormat 35mm. Me lembro de fazer uma campanha recheada de prospectos e folhetos que conseguia em perigrinacões familiares às lojas Mappin.
Ela veio numa caixa de papelão prateada, que com o tempo de desfez.
Esse período representou o início da minha profissionalização. Desenvolví trabalhos visuais para o Colégio Bandeirantes onde fiz o “colegial” e já na vida acadêmica, pérolas projetas em slides, nas salas das universidades que frequentei.
Foi com essa câmera analógica que comecei meus trabalhos em teatro. Comprei uma bolsa de couro que chegou a se desmaterializar de tanto que eu usei. Lentes e mais lentes.
Grande parte das fotos branco e preto do Fotografia de Palco 1 foi feita com essa máquina. Uma delas foi publicada no The New York Times.
A multiplicidade de lentes e formatos deu impulso aos meus trabalhos cheguei a flertar com a publicidade a bordo da minha Asahi Pentax 6X7.
Mas a duração dos flertes é efêmera. E ao som de vários boleros da minha imaginação, passei a trabalhar em laboratórios de fotografias, onde revelava e ampliava. Desenvolví copiões mais largos e compridos, utilizando papeis foscos, brilhantes e multi grade.
Desvendei mistérios de equipamentos sofisticados à câmeras descartáveis, às de brinquedo até desaguar no mundo digital deixando para trás o que conhecia para mergulhar num mundo novo, câmeras diferentes e suportes desconhecidos.
Desde 2005 venho me digitalizando dia após dia, as novas câmeras tomaram conta do armário de máquinas que agora estão organizadas num mesmo ambiente. Harmonizam minha rotina de trabalho com os arquivos de filmes, HDs, memórias e discos rígidos.
Uso câmeras e tecnologia japonesa para atender aos chamados das tábuas dos palcos, das luzes e dos afetos.
As portas abertas da minha imaginação são os livros. Como o do Teatro Oficina e os Fotografia de Palco 1 e 2. Outros virão.
Ainda tenho projetores/slides Cabin. Ontem mesmo projetei da janela aqui de casa, rostos da história do teatro. Nacionais e importados. No prédio onde Iris e eu moramos, temos vizinhos cineastas, galeristas e uma senhora de 90 anos que vive sozinha e é super ligada no meu trabalho. Uma corrente humana vibrando com fotos gigantes escorrendo no prédio da frente. Meu trabalho inspira olhares arrastados para um mar de possibilidades. Beijos e abraços encenados, amores nascidos em camarins, aflorando nas diversas temporadas desse discreto coração, à meia luz. A tarde cai.
Amanhã, noite de autógrafos, presenças confirmadas outras adiadas. O tempo das horas é quase uma afliação para quem estréia. “Aquela luz lá embaixo se acendeu”.
Todas essas câmeras fotográficas estão comigo, em perfeito estado de conservação e em funcionamento. Regurlarmete tiro as mais antigas dos estojos de couro, lubrifico engrenagens e guardo cuidadosamente em ambiente aclimatado.
No último sábado a Tv Cultura me entrevistou para o programa Metrópolis. Eles pediram para eu levar meu equipamento. Por um segundo pensei em levar todo meu arsenal de máquinas, da Brownie às Canon EOS que uso atualmente, mas não, achei melhor mostrar só para vcs. Até amanhã.
Dia 19/07/2016
Sesc Pompéia às 20h – Chopperia