Crítica: Os Realistas

Nelson de Sá

Talvez seja a dramaturgia repetitiva de Will Eno, talvez a encenação monocórdica de Guilherme Weber, melhor ator do que diretor de atores, mas “Os Realistas” tropeça por uma hora e 40 minutos e não sai do lugar.

As duas atrizes, Mariana Lima e Debora Bloch, garantem por si mesmas que a longa noite não seja exasperante para o espectador —com uma boa ajuda de Emílio de Mello, mas nem tanto de Fernando Eiras.

O elenco foi montado, ao que parece, seguindo a receita da encenação na Broadway há dois anos, com duas atrizes e um ator conhecidos de Hollywood. Como lá, não é possível dizer que seja de todo bem-sucedido.

A peça marcou a chegada de Will Eno à Broadway, culminando mais de uma década de campanha por um dos críticos do “New York Times”, Charles Isherwood, que não se constrangeu em compará-lo a Samuel Beckett.

Eno não é Beckett —assim como Miguel Falabella jamais foi Tchékhov, outra comparação feita anos atrás, no Rio. Sua dramaturgia tomba em generalidades, como escreveu o crítico do inglês “Guardian”, Michael Billington.

O que torna Debora e Mariana um alívio na apresentação, além do brilho próprio confirmado seguidas vezes por elas no palco, é que não parecem levar Eno tão a sério, não tentam ver nele Beckett, Harold Pinter ou Thornton Wilder.

Eno é “awkward”, desajeitado, mas também despretensioso, qualidade do humor americano que ganhou força a partir dos anos 1990. Na encenação, o que era desajeitado ganha ares presunçosos, formais, para poucos.

Cenário, figurinos, luz, vai quase tudo por aí no teatro Porto Seguro, bem como o ritmo lento imposto aos diálogos já claudicantes. Mariana, Debora e Emílio de Mello o trazem de volta ao chão, de tempos em tempos.

Uma versão desta crítica foi publicada em 15 de maio de 2016, com o título “Atrizes salvam humor desajeitado e despretensioso de Will Eno”