Eles não Usam Tênis Naique

Lenise Pinheiro

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Texto Marcia Zanelatto

Direção  Isabel Penoni

Direção Musical Thomas Harres

Atores Geandra Nobre, Jaqueline Andrade, Phelipe Azevedo, Rodrigo Souza e Wallace Lino

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Cenário Guga Ferraz

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Iluminação Pedro Struchiner

Figurinos Raquel Theo

Produção Mariluci Nascimento

Assitente de Produção Priscilla Monteiro

Realização Cia. Marginal – Rio de Janeiro

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Na solidão do palco vazio, os atores da Companhia Marginal, evocam proteção divina antes do terceiro sinal.

É assim em quase todas as situações, de mãos dadas, elencos rogam que os anjos digam:

– MERDA

Já em cena, ao microfone um jovem ator tem sua voz distorcida, recurso técnico que legitima a falta de identidade. Profere palavrões cabeludos, lista apelidos, gírias, saudades e afetos. Com maneirismos e malandragem na ginga do corpo e na malemolência da voz. Faz referências ao mercado de venda de drogas e enumera todos os tipos de armas. Favela, morro e asfalto aparecem como pilares na geografia do crime.

A vestimenta de um dos atores remete ao traje de Sandro Nascimento, protagonista do trágico episódio no ônibus da linha 174/Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Transmitida pela TV e posteriormente argumento de filmes e documentários.

O jovem ator, entoa o mantra comunidade/comum/comunista, como num transe.

O texto chapa quente é carregado de criminalidade, nostalgias e movimentos. Esquemas, operações e sequestros aparecem para dividir o protagonismo.

Trata-se de um espetáculo musical, à sua maneira. Temático e com percussão ao vivo. Cantam à capela:

– “Santinho gosta, Santinho vai para a pista. Santinho gosta, Santinho mata rindo”. Em alusão ao chefe do morro e suas habilidades. Ele diz:

– “O morro mudou, na minha época o pessoal do movimento ajudava, comprava remédio. Era profissional. Não tinha criança com berro na mão. Eram só olheiros. Geral falou”!

Desenrole, pipôco, feijão preto, bermuda e chinelo temperam a trama.

A vida louca de Marcinho VP, narrada com riqueza de detalhes por Caco Barcellos, aparece como possívelvel inspiração. O traficante em O Abusado, tem sua biografia localizada entre o Morro Dona Marta no Rio de Janeiro e em Buenos Aires. Reza a lenda que uma peça de teatro fora escrita pelo bandido, na capital portenha.

Numa fala da peça onde o tema das unidades pacificadoras vem à baila, conclui-se que policial esculacha, mete o pé na porta, bate na cara de velho e de criança. Espalha sangue nos barracos:

– Toca o terror. E não é caô. Num tô de 171.

O vocabulário é pobre. Realidade idem.

A paz ainda é utopia. Nesse ano de 2016, vinte anos separam o sociólogo Caio Ferraz de sua luta inglória. O massacre de Vigário Geral faz aniversário. O elenco parece comemorar com depoimentos e devaneios. Relatos trágicos conduzem a dramaturgia. Num jogo de cadeiras, códigos e agressões mútuas.

Sabemos que uma peça de teatro está sempre em mutação.

O elenco comunica um enredo ainda desamarrado e as marcas dos atores nem sempre funciona, principalmente nos embates físicos.

O espetáculo termina sugerindo que todos possam ter uma segunda chance.

Tá ligado?

25º Festival de Teatro de Curitiba

Teatro Sesc da Esquina

Dia 26/03 às 21h

Dia 27/03 às 19h

2016