Bethânia e as Palavras
A abertura do 25º Festival de Teatro de Curitiba, na sala principal do Teatro Guaíra prenuncia a edição do desassossego.
“Maria Bethânia e as Palavras”, recital da intérprete, rompeu com protocolos e com muita força, trouxe para o teatro, a voz daquela que o reverencia com política, marchas, rimas e muita afinação.
Para abrir os trabalhos Bethânia recua para dizer:
– Não tem violão. Não vai ter?
Deixando claro que teria que estar acompanhada.
Sem titubear Paulo Dáfilin, o músico, entrou em harmonia com o retorno, com seus fones e com as modas de viola que acompanhariam a noite.
A voz da cantora encheu a sala de espetáculos que minutos antes, ouvira as cerimônias de abertura, seguidas das manifestações das negativas de golpe na política e algumas vaias ensaiadas sem sucesso. Silenciaram para ouvir poesia.
Nesse espetáculo de abertura a grandeza e o entusiasmo tomaram o poder. Na vida real, panelas rugem. Curitiba protagonista das operações que lavam a jato, mas não limpam nunca. Sedia à partir desse recital de Maria Bethânia o compromisso de trazer para o palco a educação, o ensino e as artes.
Tambores de Carlos Cesar para protestar. Rimas conclamam mudanças e urgências no samba enredo entoado por aqui, aflorando na imaginação da audiência que mais uma vez Bethânia se sagrou campeã.
O figurino branco perolado construído por Gilda Midani, enaltece a elegância, que o momento político parece ter perdido. Ao declarar que sente pena do Brasil, a cantora lembra os bancos escolares, saúda seus mestres e evoca para o palco do Teatro Guaíra, a importância do Teatro.
Guilherme Weber e Márcio Abreu escolheram, o que me pareceu, a melhor abertura possível para todos os Festivais. O recital é o libelo que preenche com graça e provocação esse momento carregado de significados, Bethânia nos mostra com poesia que a vida pode melhorar.
Se despede com a graça de uma menina, volta ao palco duas, três vezes, solicitada pelos aplausos, assovios e pelas vozes que vieram admirá-la. Sugerindo:
– Não nos deixem sós.
Da geografia cênica do palco do Guaíra, a mais querida das cantoras brasileiras, emerge. Sai da caixa preta e descalça, Maricotinha chega até a beira do palco para ter conosco.
Sorrindo e dizendo que a récita diferentemente dos shows de canções, não tem bis.
Mesmo assim entoa uma canção para dizer até logo.
A letra homenageia Dona Canô e leva, todas as vezes que profere o nome da mãe, a mão direita ao peito.
Um gesto simples e singelo que resume todo esse momento de luto pela perda da pátria.
Muito obrigada, Berré.
Um beijo enorme dessa fotógrafa que te acompanha e que nesse momento tenta colocar alguns pingos nos is e nos ais.
Curitiba, março de 2016
Abertura do 25º Festival de Teatro de Curitiba
Teatro Guaíra – Curitiba – Paraná
Dia 22 março 2016