Crítica: Los Lobos Bobos

Nelson de Sá

De tempos em tempos, como no espetáculo carioca “5 x Comédia” ou no baiano “A Bofetada”, o teatro presta tributo ao besteirol, gênero surgido em São Paulo nos anos 1970 e disseminado nos 1980 com esquetes paródicos, travestismo e outras libertinagens frente à ditadura. “Los Lobos Bobos”, com dramaturgia de GpeteanH, vai por aí, despretensiosamente.

Reproduz até uma cena curtíssima do clássico “Quem Tem Medo de Itália Fausta?”, de Miguel Magno e Ricardo de Almeida, nascido como “Exercício para Atriz e Ponto”. Com segundos, encerrava uma sequência hilariante sobre “A Evolução do Drama”.

O nome descreve e tem quase a duração da cena, “Aracy Caiu na Poça: Uma Farsa Metafísica”. Quem faz a menina Aracy é Guilherme Uzeda, coração do novo espetáculo, de improviso rápido e caracterizações detalhadas.

Festejado desde a “Terça Insana”, pelo quadro de um caipira, o comediante consegue ser ao mesmo tempo ingênuo como personagem e sarcástico como intérprete. E é quem dá dinamismo às muitas cenas de envolvimento da plateia.

Faz boa dupla com Ricardo Arantes, que compõe gestos e esgares com bom efeito cômico, mais um ator que desenvolve o humor no papel do que improvisador ou humorista.

Marcelo Augusto, apesar do excesso de energia no palco, está mais deslocado. Cantor popular de origem, talvez funcionasse melhor se concentrado na música, deixando a comédia para o jogo básico da dupla.

O besteirol ficou conhecido por suas duplas, como Miguel Falabella e Guilherme Karam, mas “Los Lobos Bobos” busca caminho menos lembrado do gênero, o musical de elenco mais flexível. No caso, homenageia São Paulo com uma trilha parodiando os sambas de Adoniran Barbosa, por exemplo, “Viaduto Santa Efigênia” transformada num funk.

Sob direção musical de Pedro Paulo Bogossian, de trabalhos premiados desde “Você Vai Ver o que Você Vai Ver”, de 1989, remete ao besteirol também clássico que lançou Mauro Rasi, Vicente Pereira
e Patrício Bisso, “Ladies na Madrugada” —elo perdido do gênero com os Dzi Croquettes e os Secos & Molhados.

Uma versão desta crítica aparece na edição de 5 de fevereiro de 2016 (para assinantes) com o título “Mesmo sem pretensão, ‘Los Lobos Bobos’ presta homenagem a clássicos do besteirol”