Crítica: A Reação
“Enron”, a brechtiana peça anterior de Lucy Prebble, sobre as fraudes que levaram à falência da multinacional americana, talvez fosse mais adequada para o Brasil de hoje, de empreiteiras, mineradoras e bancos em agonia semelhante.
Mas o primeiro contato do público brasileiro com a jovem e promissora autora inglesa é por um texto de impacto político menor e estrutura bastante esquemática.
“A Reação” acompanha o teste de um novo antidepressivo. Durante algumas semanas, dois jovens –e outros, que não aparecem– tomam a droga, ministrada e monitorada por uma médica.
Os possíveis efeitos sobre eles, inclusive uma paixão que desenvolvem no ambiente fechado em que estão, compõem a reação do título.
Paralelamente, a médica debate com o médico que a contratou, um ex-namorado, agora representante do laboratório: Lorna questiona antidepressivos, Toby os defende.
São conflitos simplificados e repetitivos, num esquematismo que é reforçado ainda pela “mise-en-scène” –com projeções, objetos de cena e marcações que apontam para seres humanos tornados insensíveis, quase máquinas, pela intervenção química.
Embora os dois médicos tenham amplo direito de defesa para os respectivos pontos de vista, com racionalidade e também motivação pessoal expressas com precisão pelos tarimbados Clara Carvalho e Rubens Caribé, o resultado não é particularmente esclarecedor ou envolvente.
Menos ainda, nesse sentido, é o desenvolvimento da relação e das reações do casal Connie e Tristan, aqui com a diferença de tratar-se de atores de menor experiência.
Isabella Lemos sai-se melhor, tanto no romance como nas súbitas alterações químico-emocionais, mas Andre Bankoff parece precisar de maior preparação ou vivência, para conseguir escapar de sua interpretação caricata que, na comédia e no drama, ameaça derrubar o espetáculo todo.
Mas especialmente constrangedoras são as cenas de sexo, artificiais, posadas como não se acreditava existir mais no teatro brasileiro, até naquele mais apelativo.
Uma versão desta crítica aparece na edição de 27 de novembro de 2015 (para assinantes) com o título “Cenas artificiais e caricaturas enfraquecem peça ‘A Reação'”