Como a Gente Gosta

Nelson de Sá

Com tradução, encenação, cenário, figurinos e quase tudo mais de Vinicius Coimbra, diretor de novelas como “Lado a Lado” e um estreante no teatro, “Como a Gente Gosta” é uma adaptação populista de “As You Like It”, comédia escrita por Shakespeare pouco antes de “Hamlet”.

Amontoa equívocos indefensáveis, sobretudo maquiagem e o uniforme de efeito grotesco para todo o elenco —jeans de uso cotidiano e camiseta preta estampada com o nome de cada personagem.

Seria uma montagem fácil de descartar como apelativa ou empobrecedora, mas Shakespeare e esta comédia em especial permitem abordagens populares. O espectador que vencer a repulsa visual se divertirá à solta, com atuações cativantes como a do Bobo de Pedro Paulo Rangel.

O ator histórico de “Roda Viva” e “Aurora da Minha Vida”, que já foi Shylock em “O Mercador de Veneza”, também de Shakespeare, mergulha sem freios no humor popular, permitindo-se cacos à vontade, e na conversa com o público, que toma como cúmplice para o comentário crítico sobre tudo e todos.

Rangel justificaria sozinho o ingresso. Mas tem boa companhia nas interpretações inteligentes de Priscila Steinman como Rosalinda, um dos melhores papéis femininos do autor, que conduz a narrativa mais romântica, e de João Lucas Romero, ótimo nos muitos personagens que atravessa na apresentação.

Entre os equívocos do diretor, que podem ser creditados em parte à inexperiência, está a distribuição de papéis como Jaques. É assim que uma das frases mais memoráveis de Shakespeare (“O mundo todo é um palco. E todos os homens e mulheres, apenas atores”) passa despercebida.

O irritadiço Jaques de Xando Graça está distante da “melancolia” que, contrastando com a felicidade romântica ao redor, ajudou a tornar “As You Like It” uma das grandes comédias de Shakespeare. Pode-se apenas imaginar o que Rangel faria com tal personagem.

Uma versão desta crítica aparece na edição de 21 de agosto de 2015 com o título “Atores sustentam adaptação popularesca de Shakespeare”