Nos musicais brasileiros, o que falta agora é compositor
Na edição de hoje, procuro retratar o novo momento por que passam os musicais, com a ascensão das produções brasileiras _e a perda de fôlego das franquias da Broadway, agora que “O Rei Leão” está chegando ao fim e outros, mesmo bons, sustentam temporadas curtas. Os nacionais já substituem os anglo-americanos, nas pautas dos maiores teatros.
Além dos sete musicais listados na reportagem, vários outros poderiam ser acrescentados, como a “Ópera do Malandro” que volta ao cartaz no fim do mês, abrindo o teatro da Cia. da Revista no centro, a “Ópera dos Vivos” remontada pela Cia. do Latão, o “Samba Sampa” de Ulysses Cruz com a Vai-Vai e “Cacilda!!!!! A Rainha Decapitada”, com o Oficina.
Na atual temporada dos musicais brasileiros de formato mais tradicional, a novidade é a atenção à dramaturgia, deixando para trás as biografias, de construção mais elementar, e criando fábulas e personagens mais complexos, como fizeram Newton Moreno e Alessandro Toller _abençoados por Naum Alves de Souza_ com “O Grande Circo Místico”.
Falta agora o próximo passo, para atingir ou retomar a plenitude do gênero, como esboçada nos anos 60 e 70 por Chico Buarque e Edu Lobo, ao lado de diretores como Zé Celso e Augusto Boal e intérpretes como Bibi Ferreira e Marília Pêra. Faltam, em suma, os compositores e letristas de músicas inéditas, feitas em coordenação com os outros componentes.
Produtores do Rio, como Cláudio Botelho e Aniela Jordan, já anunciam espetáculos nessa direção. Mas Alonso Barros, um dos mais preparados diretores-coreógrafos de musicais, ele que passou mais de uma década na lendária Volksoper de Viena, encenando de “Kiss Me Kate”, de Cole Porter, a “La Traviata”, de Verdi, alerta para um grande obstáculo:
Eu fiquei muito tempo fora. E vejo o rumo que a música popular brasileira tomou… Não os artistas, mas a situação em que está atualmente, em que as pessoas não ouvem. A coisa ficou toda comercializada, com a internet, essa coisa de celebridade todo dia, um cantor vai lá e vira. Acho que a qualidade da música popular brasileira… Não sei o que está acontecendo, mas uma coisa muito legal, dos musicais biográficos principalmente, foi trazer a música para essa molecada. Isso eu acho um lado muito bom. Nos casos do “Tim Maia”, do “Elis”. Minha filha não conheceu Elis Regina, foi assistir, amou, comprou tudo o que tem da Elis. Agora, não sei o que vai acontecer, mas tem que dar um remelexo, porque ninguém aguenta, eu não aguento mais ouvir essas músicas que tocam hoje. Tenho certeza que tem gente boa, escrevendo música boa, mas que a grande mídia, a televisão não dá mais acesso. É inacreditável. A qualidade que tínhamos de música e, de repente, desapareceu.