Falta ambição, sobretudo comercial, aos musicais biográficos
“Rita Lee Mora ao Lado” é exemplo acabado dos problemas nos musicais biográficos que assolam São Paulo e Rio, nos últimos anos: a dramaturgia rala, os acréscimos descabidos, o despreparo e a falta de ambição criativa, que vão da trilha aos figurinos.
Em texto na edição de hoje, procuro abordar alguns deles e o que poderia ter sido feito, para demonstrar maior respeito ao público, à sua capacidade de apreciação, que não pode ser restrita _até comercialmente_ à adoração irracional do ídolo musical.
“Elis, a Musical” não é muito diferente de “Rita Lee”, a não ser pela produção bem mais rica e por um ou outro quadro mais qualificado. Nelson Motta, responsável pelo texto junto com Patrícia Andrade, se defendeu de “um crítico paulista”, alguns dias atrás.
Contra a descrição de “Elis” como revista ou colagem, escreve: “Como diriam na Broadway, ‘Who cares?’, ou no Harlem, ‘Who gives a fuckin’ shit?’. Os teatros estão abarrotados, os aplausos são ensurdecedores e os elencos ganham todos os prêmios”.
No que se refere à bilheteria atual, à idolatria e ao prêmio Shell, está certo. Mas não quanto à Broadway: há muito que produtores, compositores, atores se importam com a qualidade do que oferecem e reconhecem os limites _comerciais_ do teatro fácil.
Motta não cita, mas na defesa das colagens biográficas costuma-se dar como contra-exemplo “7”, o musical original de Moeller & Botelho com Ed Motta, de bilheteria relativamente baixa. Mas não era espetáculo comercial, era quase um experimento.
O contraponto aos musicais biográficos é outro, um fenômeno de bilheteria que poucos no teatro brasileiro querem enxergar, mas incontornável, mais cedo ou mais tarde: “Rei Leão“, que está em seu segundo ano com dez mil espectadores semanais.
O que “Elis”, “Rita Lee” e outros coletam são trocados de um nicho de mercado _como se diz em âmbito mais profissional_ que é imensamente maior. Auto-engano não é a melhor receita para sobreviver e crescer, em ambiente de concorrência tão forte.
O auto-engano de Motta, por exemplo: “Quem sabe estão inventando aqui um novo formato de musical, em que se misturam teatro, show, revista e tecnologia, para mostrar às novas gerações as vidas e obras de artistas de imensa importância na nossa cultura?”.