Macbeth
Lenise Pinheiro e eu entrevistamos os atores Marcello Antony e Claudio Fontana para o TV Folha (vídeo acima) mas nada de Gabriel Villela. O diretor apareceu no dia seguinte para gravar cenas de ensaio, mas na hora da entrevista estava chegando da Inglaterra, onde acompanhou “Romeu e Julieta” no teatro Shakespeare’s Globe.
Foi parte de um festival de montagens shakespearianas de todo o mundo que acontece antes dos Jogos Olímpicos de Londres. Com o grupo mineiro Galpão (vídeos aqui e aqui), ela foi a única que já havia se apresentado lá antes e se viu convidada a retornar, tamanho o seu efeito.
Gosto de lembrar que assisti à estreia de “Romeu e Julieta”, sob chuva, no adro da igreja de São Francisco, em Ouro Preto, exatos 20 anos atrás. Já era evidente que se tratava de um espetáculo histórico, com Wanda Fernandes como Julieta, Eduardo Moreira fazendo um jovem Romeu, Teuda Bara como ama.
Nunca o populismo do grupo Galpão se deu melhor; e nunca mais o formalismo de Gabriel Villela se deu tão bem. Mas não tem jeito, eu sempre ou quase sempre gosto das encenações de Villela, mesmo daquelas que se mostraram mais estanques no ritmo e mais autocomplacentes na direção de arte.
“Macbeth”, agora, não tem os problemas costumeiramente identificados com as montagens do diretor. Não é arrastada nem rococó. Se não alcança a extrema comunicação de “Romeu e Julieta” _aliás, reflexo também do texto, mais acessível que a tragédia posterior_ certamente consegue fazer fluir sua narrativa, não faltando humor bem dosado, sem escorregões, excessos.
A escolha de um elenco inteiramente masculino, como parece sempre acontecer com Shakespeare, funciona muito bem. Lady Macbeth ganha humanidade nas mãos de Fontana, que tem instantes memoráveis, por exemplo, na cena de sua morte. Marco Antônio Pâmio, nenhum novato em Shakespeare, tem atuação diferente, inusitada, como Banquo.
Também o Macbeth de Antony surpreende. A peça é bastante cortada e por vezes parece soluçar Shakespeare. Mas o protagonista se sai bastante bem nos versos mais célebres, entregando-se à morte enquanto proclama que a vida “é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada”.
PS 1 – Acabou não entrando na edição do TV Folha, mas algumas perguntas eram sobre o porquê de “Macbeth”, hoje. Qualquer relação com Guy Fawkes, que inspirou tanto o personagem de Shakespeare como o ícone do Anonymous? Nada. Algum comentário sobre a política brasileira ou mundial, já que trata da derrubada de um governante? Não. Esse é um dos problemas ou, quem sabe, uma das qualidades das encenações de Villela. É como se não acrescentassem uma leitura, mas um figurino, uma roupa, sobre os textos originais.
PS 2 – Leia também a crítica de Nando Ramos, aqui.