Dois belos musicais da Broadway, mas que fizeram temporadas muito curtas

Nelson de Sá

Poucos meses depois de estrearem, saíram de cartaz dois musicais originalmente da Broadway, “Jesus Cristo Superstar” e “Nas Alturas”. O primeiro, que nunca esteve entre as maiores bilheterias por lá, ficaria mesmo pouco tempo, nas previsões da produção. Mas foi uma aposta ousada da Time for Fun.

Sempre controverso pela trama religiosa, tendo não só Cristo, mas Judas e Maria Madalena como protagonistas, foi uma tentativa de problematizar um pouco o teatro que é oferecido ao público dos musicais. Dia após dia, nas primeiras semanas, integrantes ou dissidentes da TFP se manifestaram na frente da nova sala da T4F, em Pinheiros.

[Não à toa, também foi cancelada semanas atrás uma nova produção americana de “Superstar”, que já vinha ensaiando com John Lydon, ex-Sex Pistols, como Herodes, papel de Wellington Nogueira na produção brasileira, em quadro antológico.]

Sejam quais forem as razões _e seria possível arriscar outras_ o certo é que um grande espetáculo, que revelou como a criação musical vem crescendo até para montagens de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, saiu de cartaz. O efeito podem ser opções ainda mais seguras, de bilheteria garantida.

“Nas Alturas” é caso um pouco diferente. Não era empreitada de grande produtora e sim quase um sonho, de um grupo entusiasta do gênero.

E não que tenha sido descuidada: foi uma bela produção da 4Act, com cenário elaborado, também com figurinos, coreografia, música à altura de um teatro imenso como o Bradesco, em São Paulo. Mas foi sobretudo resultado de paixão quase individual.

Poderia até ser algo voluntarista, falhar em alguma das frentes do ofício tão coletivo e profissionalizado que é o musical, mas não foi o que se viu no palco: estava redonda, apurada, ainda que com equipe muito jovem. É nova prova de como os talentos para musical se desenvolveram, resultado da profusão dos últimos anos.

As jovens atrizes se destacaram, mais até que os atores. É o caso de Myra Ruiz (Nina), que vem de espetáculos como “Mamma Mia” e ganhou seu primeiro papel central, Nina. Foi ela o sustentáculo não só vocal, mas de romantismo, de conflito emocional necessário a “Nas Alturas”.

Também Lola Fanucchi, que faz Vanessa, chamou a atenção pela presença cênica, assim como Péricles Carpigiani, mais conhecido como vocalista de música pop _e que responde pelos quadros de rap, não cantados, mas declamados com música, o que é inusitado no gênero.

“Nas Alturas”, “In the Heights” no original, premiado em 2007 com o Tony de melhor musical, retrata a comunidade contemporânea de imigrantes e descendentes latino-americanos no norte da ilha de Manhattan _em Washington Heights, que é simbolizado pelos pequenos prédios e lojas de um beco.

Dominicanos, porto-riquenhos, cubanos e outros estão ali ganhando a vida e tentando achar seu lugar na sociedade americana _alguns já partindo para voos mais altos, como Nina, que entrou em Stanford e, na trama, acaba de desistir e voltar aos “Heights”.

Embora com narrativa muito recortada, quase teatro de revista, foi um espetáculo de qualidade incomum no Brasil. A direção musical de Paulo Nogueira foi especialmente bem-sucedida. É difícil compreender por que cumpriu temporada tão curta.

Talvez tenha mesmo chegado a hora, afinal, dos musicais brasileiros, não mais de Broadway ou West End.