“O Rei Leão”, espetáculo do ano, não só pelos números

Nelson de Sá

Na reportagem que publicamos ontem sobre maquiagem, ouvi de Lisandra Zamboni, presidente da Kryolan no Brasil, que “houve um grande crescimento no uso dos produtos no país, com a chegada dos grandes musicais“. De um musical, mais precisamente: “O Rei Leão”.

Em 16 anos, ele vem mudando o teatro por onde passa, a começar de Nova York. Já quando estreou, tornou 1997-98 a temporada de maior bilheteria até então na história da Broadway, dando a largada para as produções de caráter corporativo, de Disney e outras gigantes de entretenimento e finanças.

Dois meses atrás, alcançou uma marca inédita para o teatro, até onde pude verificar: US$ 1 bilhão em ingressos vendidos, contando só Broadway. E passou _contando só Broadway_ a arrecadação mundial do filme de mesmo nome, no qual ele foi baseado.

Em 2013, “O Rei Leão” foi mais uma vez a maior bilheteria do distrito teatral nova-iorquino, acumulando US$ 97 milhões no ano, segundo a liga dos produtores. No início de 2013, já havia deixado “O Fantasma da Ópera” para trás, como maior bilheteria da história da Broadway.

No Brasil, no primeiro ano, foram 455 mil espectadores e 304 sessões, deixando para trás o musical de maior público no país até então, o mesmo “O Fantasma da Ópera”. Daí a segunda temporada já ter sido contratada. “O Rei Leão” volta ao cartaz em São Paulo na próxima quarta.

As cifras brilham nos balanços da Disney e da Time for Fun, mas “O Rei Leão” é muito mais que números. Assisti à versão original no teatro New Amsterdam há mais de uma década e fui a uma apresentação no teatro Renault há algumas semanas. A criação de Julie Taymor é mágica, lá como cá.

Pelo que me contam, a diretora vem quase todo mês, para manter a encenação nos cascos. Quando vi, era a segunda sessão do dia e a oitava e última da semana, mas o elenco não deu sinal de cansaço. O espetáculo não esgarçou, apesar de suas mais de 300 sessões.

Da Broadway para o Bixiga, pouca coisa mudou, se bem me recordo daquela primeira encenação. O maior impacto é das letras de Gilberto Gil, mas não em comparação com o original de Tim Rice e sim com a versão em português anterior, do filme, com músicas que se tornaram muito populares no Brasil.

A escolha e o convencimento de Gil, para trabalhar num gênero ao qual ele resistia, o musical americano, foram golpes de mestre de Julie Taymor, que é amiga de Caetano Veloso. Como já havia feito com o filme, ela levou a história para mais perto da cultura negra, no caso, brasileira.

Mas a diretora não fecha “O Rei Leão” na cultura negra. Diretora experimental no Public e no Theatre for a New Audience, off-off-Broadway quando a Disney foi buscá-la, ela levou para sua adaptação o que havia acumulado do teatro da Indonésia à França e, em especial, do bunraku japonês.

No Brasil, outros golpes de mestre de Taymor foram Osvaldo Mil como Scar e sobretudo Tiago Barbosa como Simba. E na sessão que acompanhei, para minha sorte, o pequeno ator Yudchi Taniguti surgiu em cena como o Simba criança. Se ainda havia em mim alguma resistência à produção brasileira de “O Rei Leão”, acabou ali.

Comentários

  1. Se, sentado em uma poltrona somos transportados pra savana, fico imaginando quão mágico deve ser espiar os bastidores. Espetáculo a parte o Rei Leão é realmente algo a ser assistido por todos de todas as idades.

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