Cacilda https://cacilda.blogfolha.uol.com.br Blog de teatro Mon, 29 Nov 2021 21:38:57 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 ‘Boom!’ celebra teatro musical e anuncia o melhor do compositor de ‘Rent’ https://cacilda.blogfolha.uol.com.br/2018/11/06/boom-celebra-teatro-musical-e-anuncia-o-melhor-do-compositor-de-rent/ https://cacilda.blogfolha.uol.com.br/2018/11/06/boom-celebra-teatro-musical-e-anuncia-o-melhor-do-compositor-de-rent/#respond Tue, 06 Nov 2018 10:00:10 +0000 https://cacilda.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/I2K2432-320x213.jpg https://cacilda.blogfolha.uol.com.br/?p=17535 Tick, Tick… Boom!
★★★
Teatro Faap, r. Alagoas, 903. Ter. e qua., às 21h. Até 12/12. R$ 60 a R$ 90. Classificação 12 anos.

A história é muito simples, mas bem costurada, as canções são de qualidade. Percebe-se logo por que Lin-Manuel Miranda, o criador do festejado “Hamilton”, resolveu transformar “Tick, Tick… Boom!” em filme.

O pequeno musical, que estreou formalmente em 2001, mas nasceu no palco como “monólogo rock” em 1990, parece estar sempre a um passo de “Rent” —o musical posterior e histórico de Jonathan Larson (1960-96), sobre o impacto da Aids numa comunidade de artistas.

Remete em parte aos mesmos tópicos e ritmos. De certa maneira, anuncia “Rent”, explorando a própria vida de Larson numa Nova York de quitinetes, da boêmia teatral que o cercou até morrer cedo, tornando sua trajetória tão romântica.

É quase uma trama de chegada à maturidade, “coming of age”, no caso, de alcance da vida plena como artista. E as suas primeiras composições já prometem, sobretudo aquelas que sobrepõem duas ou as três vozes.

Para tanto, conta com versões sonora e tematicamente precisas das letras, como é raro ouvir no teatro musical brasileiro, talvez por terem sido feitas pelos próprios atores Bruno Narchi e Thiago Machado.

A encenação se concentra no trio de intérpretes e nos quatro integrantes da banda. Não é produção de recursos para cenários etc., mas no que investe, ou seja, em seu foco nos atores e na música, o saldo é palpável.

A banda, com os solos de guitarra de Thiago Lima e a regência teatralmente atenta do tecladista Jorge de Godoy, responde à altura dos sonhos roqueiro-musicais de Larson.

No elenco, na apresentação que se viu, o início titubeante logo fica para trás e os três oferecem cenas memoráveis dos bastidores e das aflições do teatro, que são também deles, que vêm se firmando na cena musical.

Narchi e Machado, na sala mais intimista da Faap, dirigidos em interpretação e voz por Leopoldo Pacheco e Bel Gomes, mostram o quanto amadureceram e são capazes de se deixar arrebatar.

O resultado são quadros em que o elenco vai ao limite, cômica ou dramaticamente, de seus papéis e da trilha. Um deles, em que os três cantam juntos (“Sugar”, no original), é particularmente bem-sucedido, com Machado em estado de graça.

Mas o ápice da apresentação, com aquela que é obviamente sua melhor canção (“Come to Your Senses”), é tirado do próprio musical que o protagonista está compondo, no enredo.

Giulia Nadruz tem uma voz de calar o ambiente, com emoção, alcance, domínio. É especial, de cortar a respiração do espectador.

Mas “Boom!”, com todas as suas qualidades, deixa então um vazio. O que vem à mente, ao sair, é o que mais haveria de joia oculta em “Superbia”. É o nome do musical anterior e esquecido de Larson, que o célebre compositor Stephen Sondheim tanto elogiou e jamais foi montado —a não ser pela música cantada por Giulia.

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Guilherme Leme mergulha ‘Romeu e Julieta’ no pop e escapa com vida https://cacilda.blogfolha.uol.com.br/2018/09/09/guilherme-leme-mergulha-romeu-e-julieta-no-pop-e-escapa-com-vida/ https://cacilda.blogfolha.uol.com.br/2018/09/09/guilherme-leme-mergulha-romeu-e-julieta-no-pop-e-escapa-com-vida/#respond Mon, 10 Sep 2018 01:19:16 +0000 https://cacilda.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/romeuejulieta-320x213.jpg https://cacilda.blogfolha.uol.com.br/?p=17182 Romeu + Julieta – Ao Som de Marisa Monte
★★★★
Teatro Frei Caneca. R. Frei Caneca, 569. Sex., às 20h30; sáb., às 16h e 20h; dom., às 19h. Até 21/10. R$ 75 a R$ 200

A encenação se inspira, como evidencia o próprio nome-marca que adota, em “Romeo + Juliet”, um dos melhores filmes de Baz Luhrmann e talvez a versão contemporânea mais bem-sucedida, ao menos em aceitação do público, de Shakespeare.

A ideia é reunir música pop —bandas como Cardigans e Radiohead no caso do filme de 1996, Marisa Monte no musical brasileiro— com alguns dos diálogos, das falas mais emblemáticas da tragédia.

O resultado, como no filme, é desigual, por vezes levando a peça a perder ritmo. A trama original, das mais envolventes de Shakespeare, precisa ceder lugar às canções do “universo” da cantora —e, mais do que acontecia no filme, nem todas fazem sentido. Algumas letras têm enredo conflitante.

De qualquer maneira, o musical alcança seu intento de aproximar mais a peça do público brasileiro, ainda que muito cortada, inclusive cenas que o filme havia mantido.

Um dos trunfos deste “Romeu + Julieta” é a protagonista Bárbara Sut, sobretudo pela voz, pela interpretação das canções. Ela escapa com vida da comparação inevitável com a cantora: é também tocante e de timbre semelhante e ao mesmo tempo explora variantes próprias para os hits.

No papel de Julieta, poderia buscar maior diversidade de interpretação, de início concentrada em uma alegria infantil, posteriormente se voltando por inteira para lágrimas e drama.

É eficiente em ambos, mas sem aproveitar a fundo as alternâncias e a perspicácia que o próprio texto sugere para a personagem. O autor abraçava um teatro popular e variado, em que a tragédia e a comédia, mesmo neste que teria sido um de seus primeiros textos, conviviam a cada cena.

O Romeu de Thiago Machado consegue maior equilíbrio entre interpretação musical e atuação, ainda que sem o carisma da coprotagonista —e ainda que seu personagem seja sabidamente mais restrito.

Mas o principal é que a dupla, o jovem casal, tem o que se costuma chamar de química e convence em sua paixão juvenil, algo descontrolada, quase um autoengano, que é o coração da peça —em contraste com a divisão política de suas famílias, que corrói a cidade-estado de Verona.

Outros desempenhos são especialmente felizes, caso da ama de Stella Maria Rodrigues, que se sai bem na porção musical e, pelo humor, conquista o espectador desde seu primeiro passo no palco.

É mais engraçada e inteligente do que costuma acontecer com a personagem noutras montagens contemporâneas. É possível ver nela um pouco da colaboração artística de Vera Holtz na produção, mas é principalmente o timing, o vaivém surpreendente que Stella consegue no papel o que a faz sobressair tanto.

O frei Lourenço de Glaudio Galvan também é engraçado como requer seu personagem, mas é dele o quadro mais forte, propriamente musical, que fecha o primeiro ato.

É o casamento de Romeu e Julieta, que ele sagra cantando a música “Vilarejo”, uma das tantas letras que pouco têm a ver com a cena, mas nesse caso não importa. Tanto a mise-en-scène criada por Guilherme Leme como a direção musical de Galvan e do coro por Apollo Nove alcançam aos poucos um sentimento de graça, marcadamente religioso.

Elementos de cenário, figurino e iluminação, tanto nessa cena como naquela da despedida de Romeu e Julieta, compõem imagens de impacto, contrastando as torres de pedra com os corpos dos dois protagonistas —e os panos e focos de luz que os estendem.

As cenas confirmam o êxito buscado por Leme com colaboradores da qualidade de Holtz e da cenógrafa Daniela Thomas, do figurinista João Pimenta, da iluminadora Monique Gardenberg e do adaptador Gustavo Gasparini.

Como confirma a casa lotada, o musical é de apelo popular, devido em parte aos hits de Marisa Monte, mas também ou principalmente ao original, como reencontrado pelo diretor.

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